30 anos do gibi O Menino Maluquinho

Em outubro de 1989 estava nas bancas o número 1 de O Menino Maluquinho, gibi em formatinho (13,5 x 19 cm, 64 páginas, papel offset) que é o primeiro desse personagem do Ziraldo. No momento em que escrevo, isso já faz 30 anos. Este relato é um registro para a história das publicações de quadrinhos brasileiras e também é uma história pessoal.


Anteriormente, o Ziraldo tinha topado fazer uma empresa para licenciar suas criações para produtos, mais ou menos como sempre fez o Maurício. Chamava-se Zappin. Por isso, o Menino Maluquinho tinha aparecido primeiro em história em quadrinhos na publicação Revistinha do Ziraldo, com seis edições em 1987. Essa revista era de tamanho maior, tinha seções, personagens e desenhistas variados. Não era, estritamente, um gibi. Foi interrompida e a Editora Abril preferiu que Ziraldo fizesse um gibi propriamente dito. Entre uma publicação e outra, a equipe do estúdio Zappin foi mudando e até a concepção da turminha de crianças foi amadurecendo. Os nomes das amigas do Maluquinho, por exemplo, foram trocados. Junim, Lúcio, Herman e Shirley Valéria surgiram. 

Outra coisa aconteceu: a direção da Zappin buscou reforçar a equipe, porque teria que produzir as tais 64 páginas mensais de histórias inéditas. Ziraldo já tinha chamado para o grupo artistas experientes, como Heucy Miranda (membro da equipe que fazia o gibi Pererê nos anos 60), Stil (animador e ótimo criador de roteiros), Ferreth (cartunista, ilustrador de mão cheia) e os especialistas em letreiros Jair José da Silva e Mauro Ernesto de Oliveira. Também tinha o Paulo Paladino, desenhista descoberto pelo Ziraldo, que ficava mais nas ilustrações de produtos do que no gibi. Mesmo assim, a Zappin resolveu publicar um anúncio na seção de classificados do Jornal do Brasil.



Pelas tramas do destino, eu, Mig Mendes, que era um estudante de Jornalismo nos seus últimos períodos, e não costumava procurar por emprego dessa forma, vi o anúncio. Isso mudou completamente os meus planos de vida, porque não acreditava que existisse um meio de fazer uma carreira profissional em quadrinhos (anos antes, em visita à Rio Gráfica Editora, fui aconselhado a não tentar essa loucura). Eu não tinha a “experiência profissional” exigida no anúncio, mas tinha feito quadrinhos amadores a vida inteira. Naquela altura, já tinha uma pasta com dezenas de páginas de quadrinhos de personagens próprios, apenas esperando publicação. Foram amostras deste tipo que eu levei ao Sr. Antonio (nosso Toninho). Lá na Rua Alegrete, 29, no bairro das Laranjeiras, Rio, recebi a missão de criar uma pequena história com o Menino Maluquinho. Inventei 5 páginas, finalizei com nanquim e levei para a Zappin. Uma semana depois me chamaram pra falar com o Ziraldo. Ele me falou muitas coisas, mas só precisamos saber agora que ele fez algumas alterações no meu roteiro e disse que já estava bom para publicar. De fato, meu teste acabou saindo no número 3. A partir daí, meu sonho profissional se realizou e decidi me dedicar à criação de roteiros para o gibi que sairia alguns meses depois. Eu ainda não podia realizar os desenhos, mas já ia treinando. Junto comigo entraram na linha de produção outras pessoas, como a professora de artes Jacqueline Martins, autora de inúmeras histórias da turminha, e Ivo Kós, hoje animador nos EUA, que entrou como editor do gibi. A equipe que fazia o gibi ainda seria engrossada com o desenhista Marco A. de J. Ferreira, o nosso Marquinho, que fez uma parte considerável de toda a nanquim dos nossos quadrinhos. Ele veio da Rio Gráfica Editora, assim como Fátima Valença, a nossa Fafá, editora que substituiu Ivo Kós. Com relação aos roteiros, várias pessoas colaboraram no gibi desde os primeiros números.


Primeira historinha do Maluquinho #1 , O Plano Econômico (roteiro de Mig)

O primeiro número de O Menino Maluqunho em Quadrinhos, pela Editora Abril, começava com meu roteiro Plano Econômico, desenhado pelo Heucy e finalizado pelo Ferreth. Era uma brincadeira com a hiperinflação que era nossa sina cotidiana. Depois vinha Zimblóvia, fantasia louca do Stil, desenhada pelo Paulo Paladino, com esboços do Ziraldo. Esboços do Ziraldo também em O Carisma, que apresenta Julieta e seu pai pintor. Em seguida, a primeira publicada de Jacqueline, chamada Adivinha quem vem pra ficar, com desenhos do Heucy. Depois, uma história muda do Bocão (”Cadê?”) e a safadinha A alma do negócio, uma de muitas comédias na sala de aula (naquele tempo a Turma da Mônica não tinha ainda ido à escola nos gibis, mas o Maluquinho ia toda vez). Pra continuar, a estreia de O Menino Mais Bonito do Mundo, um personagem à parte da turma, pois trata-se do primeiro homem do paraíso, Adão, quando era menino. A história chamava-se A maçã ilimitada, com participação necessária de outro personagem dos livros infantis do Ziraldo. Com todas essas estreias, a melhor ainda estava por vir: A garota nova, apresentando a personagem Shirley Valéria, aquela lourinha. Pra terminar as 64 páginas, outro roteiro meu: A fórmula da Cola-Loca, em que o Maluquinho encarna seu lado cientista louco.


Esta é a página de expediente dessa edição.



A revista continuou até a edição 70, passando por algumas mudanças gráficas para viabilizá-la nas bancas, numa época de situação econômica insana. Com o tempo, eu passei a desenhar várias das histórias, a fazer as tiras diárias para jornais e, eventualmente, virei o editor, ajustando roteiros e fazendo o “espelho” das páginas mensais. Esse gibi ainda foi sucedido, depois de uma interrupção, pela revista formato americano Revista do Menino Maluquinho (com quadrinhos e outras seções), mas isso já é outra história. Em 2005 Maluquinho, Julieta e Junim reaparecem com muitas novidades nos gibis feitos pela Editora Globo, que detém os direitos de publicação atualmente.


Linha do tempo das publicações estreladas pelo Menino Maluquinho:

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